Por: Raquel Oliveira
Cientistas brasileiros confirmam eficácia da aplicação de um ácido graxo extraído de plantas na redução de tumores cerebrais em ratos. A descoberta pode originar um novo tratamento para esse tipo de câncer.
Um ácido graxo encontrado em óleos vegetais, especialmente os das plantas do gênero ‘Primula’, mostrou eficiência na redução de tumores cerebrais em ratos (foto: BerndH/ Wikimedia Commons).
Pode vir dos óleos vegetais um novo aliado no combate ao glioma, tumor do sistema nervoso central que afeta principalmente o cérebro. Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) confirmaram em testes com ratos a eficiência da aplicação de um ácido graxo extraído de plantas na redução desse tipo de câncer. O estudo pode dar origem no futuro a uma nova forma de combate à doença.
O tratamento com o ácido graxo reduziu em 75% o tamanho dos tumores
O glioma não está entre os tipos mais comuns de câncer. Seu tratamento é difícil e atualmente inclui radioterapia e remoção cirúrgica do tumor. Os pesquisadores da USP testaram a eficácia do ácido gama linolênico (AGL), um ácido graxo essencial do tipo ômega-6 encontrado primariamente em óleos vegetais, contra o tipo de tumor cerebral mais comum e agressivo em humanos, o glioblastoma multiforme. O resultado foi animador: o tamanho dos tumores foi reduzido em 75% durante o tratamento.
Segundo o especialista em biologia celular e tecidual Juliano Andreoli Miyake, um dos autores do estudo, as propriedades anticancerosas do ácido gama linolênico já eram conhecidas. O diferencial da pesquisa da equipe da USP foi a quantidade de AGL usada para tratar o tumor: foi instalada uma bomba na cabeça dos ratos que inseria em média 0,5 microlitro desse ácido graxo por hora. A duração total do tratamento foi de 14 dias.
“Esse é um tempo bastante curto”, avalia Miyake em entrevista à CH On-line. “Há inclusive estudos em cultura com outros tipos de câncer nos quais se observa diferença na proliferação das células tumorais em apenas 24 horas”, acrescenta. “É difícil falar em cura, mas acho que o AGL se aproxima de um tratamento mais eficaz do que os existentes hoje em dia.”
Para realizar os testes, foram cultivadas em laboratório células de glioblastoma multiforme com crescimento acelerado. Depois, elas foram injetadas nos ratos. Após um intervalo de duas semanas para que as células se multiplicassem nos animais, os pesquisadores iniciaram o tratamento com o AGL.
A ressonância magnética mostra um glioblastoma, tumor cerebral mais comum e agressivo em humanos. Testes em ratos confirmaram que o ácido gama linolênico é capaz de reduzir esse tipo de tumor (imagem: Christaras A).
Indução da morte celular
Miyake explica que o tumor diminuiu porque o AGL induz a morte celular. Além disso, houve redução de 44% na angiogênese, ou seja, na criação de vasos sanguíneos, que está diretamente relacionada ao crescimento acelerado do tumor.
O AGL também reduziu as proteínas associadas à proliferação das células do glioma, como a ERK1 e a ERK2. Por outro lado, a quantidade de P53, uma espécie de supressor tumoral, foi aumentada. “O AGL diminuiu ainda a atividade da enzima MMP2, que é muito importante porque abre espaço para a migração das células cancerosas e para a formação de novos capilares sanguíneos”, conta Miyake.
O ácido gama linolênico também pode mostrar eficácia contra outros tipos de câncer
A bioquímica Alison Colquhoun, outra autora do estudo, acredita que o ácido gama linolênico também pode mostrar eficácia contra outros tipos de câncer. “Já existe literatura científica que indica o potencial do uso do AGL em tumores localizados em outros lugares do corpo”, adianta.
Segundo Miyake, ainda não há previsão de quando serão iniciados testes com humanos para o tratamento de tumores cerebrais com AGL. Ele conta que esse ácido graxo tem um efeito colateral sobre a quantidade de lipídios que favorecem um processo de inflamação no cérebro.
“Pesquisas indicam que o ácido gama linolênico modula a resposta inflamatória e pode aumentar ou diminuir a concentração dos lipídios envolvidos no processo inflamatório”, esclarece. Por isso, os esforços da equipe estão concentrados agora em estudar substâncias com potencial anti-inflamatório, como as prostaglandinas.
Quanto às possíveis diferenças entre a reação do organismo de ratos e de humanos a esse ácido graxo, Colquhoun esclarece: “É impossível falar agora. Há alguns estudos iniciais com humanos em que certos tumores reagiram bem, mas é preciso muita pesquisa clínica antes de se chegar a qualquer conclusão.”
Fonte: Ciência Hoje
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