Investigadores portugueses reportam processo evolutivo de cleptoplastos
Este grupo de lesmas-do-mar, denominados sacoglossos, foi igualmente baptizado de “Lesmas-do-mar movidas a energia solar” (solar-powered seaslugs no original inglês). Até agora, conhecem-se no mundo 300 espécies e vivem todas em águas pouco profundas, associadas a algas verdes que frequentemente observamos nas praias.
Estes cleptoplastos podem produzir energia tal como o faziam na alga durante algumas semanas ou até meses, sendo portanto um bom complemento ao consumo das algas pelas lesmas. Num artigo publicado a semana passada, no «Journal of Experimental Marine Biology and Ecology», os investigadores portugueses Bruno Jesus, Patrícia Ventura e Gonçalo Calado reportam uma importante descoberta relacionada com as prestações destes cleptoplastos.
Estudando a espécie de lesma-do-mar Elysia timida e a alga de que se alimenta Acetabularia acetabulum demonstraram que o rendimento fotossintético em condições de luz alta, semelhante à do ambiente em que vivem, é maior nos animais que nas algas. De facto, nestas condições de luminosidade, os cloroplastos das algas entram facilmente num processo denominado fotoinibição, que baixa o rendimento do processo de fotossíntese.
Inovação evolutiva
“É fascinante como um animal pode ser ainda mais eficiente fazer fotossíntese do que a alga a quem roubou a maquinaria!”, comentou Bruno Jesus, investigador do Centro de Oceanografia e primeiro autor do estudo. “Algures, no decorrer da evolução, esta associação terá sido fortemente benéfica para este grupo de lesmas-do-mar, provavelmente na colonização de águas pouco profundas. Embora este processo evolutivo esteja longe de ser entendido, é certamente uma lição a ter em conta que demonstra que as inovações evolutivas têm muito menos fronteiras do que “a priori” poderíamos pensar”, acrescentou.
Este trabalho é o primeiro resultado de um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia chamado SymbioSlug, coordenado pelo Instituto Português de Malacologia e tendo como parceiro o Centro de Oceanografia, que pretende estudar a fisiologia desta curiosa relação entre animais e plantas, que até agora levantou mais perguntas que respostas.