Estudos recentes apontam novos riscos associados a um velho inimigo. Uma pesquisa mostrou que resíduos de nicotina provenientes da fumaça do cigarro podem gerar compostos cancerígenos; outra identificou centenas de bactérias patogênicas no tabaco.
Resíduos de nicotina provenientes da fumaça do cigarro podem permanecer durante meses nas superfícies de ambientes fechados. Ao reagirem com ácido nitroso, esses resquícios dão origem a compostos químicos cancerígenos (foto: sxc.hu).
Não bastassem os já conhecidos efeitos nocivos do cigarro, duas pesquisas vêm agora acrescentar novos riscos à saúde causados pelo tabagismo.
Uma delas mostra que os resíduos de nicotina oriundos da fumaça do cigarro podem reagir com o ácido nitroso do ambiente e formar compostos cancerígenos, o que representa uma ameaça aos chamados fumantes de terceira mão — expostos às partículas de cigarro que continuam no ambiente.
O outro estudo identificou microrganismos patogênicos em amostras de cigarros – o que indica que as infecções causadas pelo fumo podem ser oriundas do próprio cigarro e não apenas da vulnerabilidade causada ao organismo pelos elementos químicos presentes no produto.
“Ao todo, são formadas três nitrosaminas. Duas delas, a NNN e a NNK, são classificadas como potenciais causadoras de câncer pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer ”, explica à CH On-line o especialista em físico-química Hugo Destaillats, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley (EUA) e um dos autores do estudo.
O terceiro composto oriundo da reação é a NNA. Formada em maior quantidade, ela não está classificada na lista de substâncias capazes de desencadear câncer em humanos. “No entanto, a NNA tem estrutura bastante similar à da NNK e é mutagênica, o que leva à necessidade de novos estudos para avaliar sua toxicidade”, ressalta Destaillats.
A pesquisa norte-americana não investigou a quantidade de nitrosaminas absorvida pelas pessoas que têm contato com superfícies contaminadas pelos resíduos de fumaça de cigarro.
“Entretanto, os níveis desses compostos encontrados nessas superfícies levantam preocupação quanto aos impactos sobre não fumantes, principalmente as crianças pequenas”, argumenta Destaillats. Para os tabagistas, a exposição às substâncias tóxicas é ainda maior, uma vez que as nitrosaminas já estão presentes na fumaça visível.
O alerta principal da pesquisa é quanto à importância de não se fumar em espaços fechados. “Se os riscos de intoxicação permanecem mesmo depois que o cigarro é apagado, não basta apenas evitar o fumo na presença de não fumantes”, diz o cientista. “Os ambientes fechados devem ficar 100% livres de fumaça de cigarro.”
As bactérias do cigarro
Outro estudo mostrou que, mesmo apagado, o cigarro também pode desencadear infecções respiratórias. Nessa pesquisa, publicada no fim do ano passado no periódico Environmental Health Perspectives [PDF], cientistas dos Estados Unidos e da França identificaram a presença de bactérias em amostras de cigarros. A descoberta indica que o cigarro pode ser uma fonte direta de exposição a microrganismos patogênicos.
Para desenvolver a análise, os pesquisadores coletaram material genético encontrado no tabaco de quatro famosas marcas europeias de cigarro. Em seguida, eles analisaram esse material para tentar identificar ali sequências em comum com os genes conhecidos de mais de 700 organismos bacterianos.
Quinze diferentes classes de bactérias e uma ampla gama de organismos patogênicos foram detectados nas amostras de cigarro. Em mais de 90% dessas amostras foram encontradas bactérias como Acinetobacter e Pseudomonas aeruginosa — causadoras de sérias infecções hospitalares.
A especialista em saúde ambiental Amy Sapkota, da Universidade de Maryland (EUA), primeira autora do artigo, conta que outras análises realizadas anteriormente já haviam revelado a presença de bactérias em cigarros. “Mas pela primeira vez foi feita uma abordagem molecular que nos permitiu avaliar a diversidade total de bactérias encontradas no fumo de cigarro”, diz ela à CH On-line.
Com base em estudos anteriores, Sapkota afirma que bactérias como a Mycobacterium avium podem sobreviver à queima do tabaco. O próximo passo é investigar a presença desses microrganismos patogênicos na fumaça do cigarro. “Se isso for comprovado, temos uma ameaça também aos fumantes passivos, que convivem com a fumaça”, diz.
As implicações na saúde derivadas da presença desses organismos ainda não foram devidamente esclarecidas. A cientista acredita, porém, que os organismos podem contribuir para o desenvolvimento de doenças infecciosas e crônicas tanto em fumantes ativos quanto passivos. “Essa é uma hipótese a ser desenvolvida em estudos futuros”, afirma Sapkota.Fonte: Ciência Hoje
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