Ao longo de três décadas, entre 1947 e 1976, duas fábricas de uma multinacional fizeram descargas no rio Hudson, em Nova Iorque, poluindo-o com 600 toneladas de um dos poluentes mais tóxicos e cancerígenos que se conhecem, o bifenilpoliclorado (PCB).
Investigadores da Universidade de Nova Iorque (NYU) e do Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI) estudaram recentemente o impacto desta poluição nos animais desse rio e foram surpreendidos quando constataram que um peixe local da família do bacalhau (Microgadus tomcod) adaptou-se de tal forma que, ao contrário de outros, que desapareceram, proliferou e é hoje encontrado em grandes populações.
Um estudo publicado na “Science” explica que o excesso de PCB induziu uma mutação que levou o peixe a evoluir e tornar-se resistente à grande quantidade de toxinas presentes na água.
Já se conheciam adaptações de insectos a insecticidas e de bactérias a antibióticos. Contudo, “esta é a primeira demonstração de um mecanismo de resistência numa população vertebrada”, afirmou Isaac Wirgin, um dos autores do estudo.
Esta “mudança evolucionária” provocou uma surpresa maior por ter acontecido num espaço de tempo muito curto, uma vez que a poluição do rio com esse composto químico começou há cem anos, e Isaac Wirgin não a vê como algo positivo, pois caso o rio seja limpo, o peixe vai precisar de se readaptar.
Além disso, frisaram os investigadores, esta adaptação terá impacto na cadeia alimentar. “O peixe sobreviveu, mas ainda acumula PCBs no seu corpo, pelo que passa a substância para qualquer outro que o coma”, disse Mark Hahn, do WHOI. Mesmo que não seja pescado, ao servir de alimento para peixes maiores consumidos por humanos, o poluente pode chegar à alimentação das pessoas.
Alteração genética
Os investigadores perceberam esta alteração genética através da análise do gene AHR2, um método comum para controlar a sensibilidade aos PCBs. Dois dos mais de mil aminoácidos normalmente encontrados nas proteínas desse gene aparentemente desapareceram nas espécies que vivem na região.
Segundo Diana Franks, uma bióloga que colaborou na investigação, esta descoberta é “um exemplo de como as actividades humanas podem provocar a evolução ao interferir com o meio ambiente”.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário