Dos oito maiores venenos que existem, seis são naturais: a toxina A do butonilium, a toxina A do tétano, toxina da difteria, a ricina (do rícino), a muscarina (dos cogumelos) e a bufotoxina (dos sapos); destes, só o sarin (gás dos nervos, 8º lugar) e as dioxinas (5º lugar) é que são de origem sintética.
* Professor Catedrático jubilado do Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Conselheiro do ciência Hoje para o Ano Internacional da Química.
Podemos então dizer que “Quando um produto natural mata... É natural! Fica a consolação de se morrer... naturalmente”.
A má imagem da Química
A má imagem da Química resulta da sua má utilização e deve-se particularmente à dispersão de resíduos no ambiente (que levam ao aquecimento global e mudanças climáticas, ao buraco da camada de ozono e à contaminação das águas e solos) e à utilização de aditivos alimentares e pesticidas.
Há o hábito de utilizar a palavra “químicos” para designar substâncias de síntese, imprimindo-lhes um ar perverso, de substância maldita. Há tempos passou na TV um anúncio da DGS destinado a combater o uso do tabaco que dizia: “… o fumo do tabaco contém mais de 4000 substâncias químicas tóxicas, irritantes e cancerígenas…”.
Bastaria referir “substâncias”, mas teve de aparecer o adjectivo “químicas” para lhes dar um ar mais tenebroso. Todas as substâncias, naturais ou de síntese, são “químicos”! Todas as substâncias, naturais ou de síntese, podem ser prejudiciais à saúde! Tudo depende da dose.
Qualquer dia aparecerá uma notícia na TV referindo, logo a seguir às tricas dos dirigentes e jogadores de futebol, que “A água, substância com a fórmula molecular H2O, foi o químico responsável por muitas mortes nas nossas praias”… por falta de cuidado! Porque os Químicos, os que trabalham em Química, determinaram as estruturas e propriedades destas substâncias, haverá razão para lhes chamar “substâncias químicas”?
Estamos a ser envenenados pelos muitos “químicos” que invadem as nossas vidas?
O número de cancros das vias respiratórias na mulher só começou a crescer a meados dos anos 60, com a emancipação da mulher (Luta das mulheres pelo mesmo direito ... a morrer!) . É o tipo de cancro responsável pelo maior número de mortes nos Estados Unidos.
Não é verdade que as substâncias de síntese (os “químicos”) sejam uma causa importante de cancro; isto sucede somente quando há a exposição a altas doses (pequenos grupos, ocupacionais).
As maiores causas de cancro são o fumo do tabaco, o excesso de álcool , certas viroses , inflamações crónicas e problemas hormonais. A melhor defesa é uma dieta rica em frutos e vegetais.
Substâncias cancerígenas
Consideram-se cancerígenas as substâncias que causam cancro na espécie humana ou em duas espécies de mamíferos. A classificação de “cancerígeno” resulta de estudos populacionais (comparando a ocorrência de cancros em populações expostas e populações não-expostas a certos agentes) e estudos em animais.
Os estudos em animais realizam-se normalmente com populações pequenas, utilizando doses elevadas das substâncias a ensaiar.
Começam-se por realizar estudos com bactérias, como no teste de Ames, em que se avalia a capacidade da substância para causar mutações (alteração da sequência de bases no DNA) que são causadoras de cancros, modificações genéticas e problemas de fertilidade. Há vários tipos de testes mas só cerca de 90% das substâncias cancerígenas em humanos dão resultado positivo num dado teste.
Nenhum dos testes actualmente utilizados é perfeito e, por isso, realizam-se usualmente testes diferentes sobre a mesma substância. As substâncias com capacidade de provocar mutações são posteriormente ensaiadas em mamíferos, posteriormente sacrificados para análise dos órgãos atingidos.
Há alguns anos, metade das substâncias testadas (naturais e sintéticas) em roedores deram resultado positivo em alguns testes de cancerigenidade, o que pode resultar do uso de doses muito elevadas. Muitos alimentos contêm substâncias naturais que dão resultado positivo, como é o caso do café torrado.
Embora um estudo realizado por Michael Shechter, do Instituto do Coração de Sheba, Israel, mostrasse que a cafeína do café tem propriedades antioxidantes, actuando no combate a radicais livres diminuindo o risco de doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro, a verdade é que, há meia dúzia de anos, só 3% dos compostos existentes no café tinham sido testados.
Das 30 substâncias testadas no café torrado, 21 eram cancerígenas em roedores e faltava testar cerca de um milhar! Vamos deixar de tomar café? Certamente que não. O que sucede é que a Química é hoje capaz de detectar e caracterizar quantidades minúsculas de substâncias, o que não sucedia no passado. Como se disse, o veneno está na dose e estas substâncias estão presentes em concentrações demasiado pequenas para causar danos.
Um caso recente foi a polémica sobre o uso do adoçante aspartame, dado que o grupo do Dr. Morando Sofritti, da Fundação Ramazzini (Bolonha) verificou que o adoçante era cancerígeno em roedores (2005-2006). O caso foi reanalisado por um painel de especialistas da EFSA (European Food Safety Autority), do US National Cancer Institute e do US National Toxicology Program que concluiu que não há razões para alterar a posição que vinha sendo adoptada (dose diária admitida de 40 mg por kg de massa corporal que, para um indivíduo de 70 kg, é de 2,8 g).
Se se utilizar aspartame três vezes por dia, colocando 3 pastilhas por chávena, a dose total é de 0,18 g, que é cerca de 15 vezes menor que a dose diária máxima admitida.
Os aditivos alimentares e os pesticidas
Os aditivos alimentares e os pesticidas são outra fonte de preocupação da sociedade. Os aditivos alimentares aumentam a qualidade, disponibilidade e segurança dos alimentos, a preços acessíveis. Destinam-se a evitar que os alimentos se estraguem por acção de bactérias, fungos, bolores, fermentos e reacções químicas, para aumentar o seu valor nutritivo (adição de vitaminas, minerais e outros), para preservar as suas propriedades físicas (agentes anti-caking, emulsionantes, etc.) e para os tornar mais atractivos (cor e sabor).
Os aditivos utilizados legalmente são seguros, pois tanto nos EUA como na UE há um controlo permanente e rigoroso dos aditivos autorizados (e respectiva dose admitida), com reavaliações em caso de necessidade.
Tudo isto está inventariado e controlado a nível da UE. Todos nós respiramos uma mistura de uma parte de E948 e cinco partes de E941, expiramos E290, usamos objectos de E174 e E175 e polvilhamo-nos com E553b. O E270 existe no iogurte (ácido láctico), o E300 nos citrinos (ácido cítrico), o E307 no azeite (vitamina E), o E300 em muitos frutos (vitamina C) e o E260 no vinagre (ácido acético). São estes os exemplos mais vulgares destes terríveis EEE…
O argumento de que os pesticidas naturais são mais inofensivos devido à evolução, não tem fundamento. Na realidade, muitas substâncias naturais, presentes através da evolução, provocam o cancro; as defesas do organismo não distinguem as substâncias naturais das sintéticas, o Homem não habita a Terra há tempo suficiente para se estabelecer uma harmonia com as substâncias naturais e muitos dos alimentos actuais (café, chá, batata, tomates, kiwis, …) são relativamente recentes.
Isto compensa qualquer risco associado à possível presença de pequenas quantidades de pesticidas. Tenham muito cuidado com as adubações por meio de estrumes naturais …
1 comentários:
estes alimentos são muito gostosos
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