segunda-feira, 29 de março de 2010

Qualidades da romã

Ela tem tantas virtudes para a saúde que vale a pena criar o hábito de consumi-la todos os dias. Um poderoso hidratante e antioxidante, seu extrato encontra cada vez mais espaço na indústria da beleza. Aproveite a estação para mergulhar de cabeça nos benefícios desta exótica fruta. A romã não atrai apenas sorte e fartura, prometidas pela simpatia popular a quem chupar seis sementes da fruta todo 6 de janeiro, Dia de Reis. Há evidências de que a ingestão diária do suco feito com a casca, as sementes e a polpa (sim, tudo junto!) ajuda a controlar a pressão arterial, reduzir o colesterol ruim (LDL) e prevenir o câncer de mama e de próstata. Segundo a bioquímica Fernanda Archilla Jardini, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), “ainda não foram realizados testes em humanos, mas as células tumorais in vitro tratadas com a bebida tiveram seu crescimento inibido”. Já os efeitos sobre a pressão e o colesterol estão comprovados desde 2001 por estudos do bioquímico norte-americano Michael Aviram, do Rambam Medical Center, em Haifa, Israel.

Ali mento sagrado. A bebida já entrou para a história, mais precisamente no período que vai de 970 a 930 a.C., durante o reinado de Salomão, em Israel. Diz a lenda que o soberano, conhecido como o mais sábio dos reis, encontrou no vinho da romã a força para contentar suas 700 esposas e 300 concubinas. Por gratidão, ele mandou esculpir a fruta no alto das colunas de seu templo, onde hoje se encontra o Muro das Lamentações, em Jerusalém. Era para lá que os judeus levavam as romãs e outros seis alimentos sagrados (trigo, cevada, figo, uva, azeitona e tâmara) na Festa de Pentecostes (Shavuot), que acontece sete semanas após a Páscoa. “A fruta também faz parte do ritual da passagem do ano-novo judaico. Nesse dia, as pessoas engolem as sementes para que seus méritos sejam multiplicados durante o ano. Há ainda a crença de que uma romã possui 613 sementes, o mesmo número de mandamentos escritos da Torá”, conta Cecília Ben David, coordenadora pedagógica do Centro de Cultura Judaica, em São Paulo. O rei Salomão não foi o único governante a se render à fruta. Em ocasiões especiais, os imperadores romanos pregavam na roupa uma espécie de medalha feita com uma fatia fina de romã para simbolizar o poder e a fartura. No Egito e na Fenícia antigos (atual Líbano e Síria), os frutos e as folhas da romãzeira eram usados em cerimônias religiosas e colocados nos túmulos de sacerdotes e reis como oferenda.

Símbolo de fertilidade. Entre os plebeus, a romã ganhou outros significados, como amor, união, casamento e fertilidade, todos relacionados à grande quantidade de sementes que a fruta contém e à forma harmoniosa como elas se entrelaçam em sua polpa – na Grécia, por exemplo, era comum as mulheres consumirem romã em eventos religiosos para evocar a fertilidade. Conta a mitologia que Deméter, a deusa da terra e da agricultura, deixou a vegetação morrer e a fome se instalar no planeta enquanto vagava à procura da filha, Perséfone, raptada por Hades, o deus das profundezas. Diante do caos, Zeus foi obrigado a interceder e exigiu a libertação da moça desde que ela não tivesse comido nada no inferno. Mas Perséfone não resistiu aos seis grãos vermelhos da romã oferecidos por Hades e, por isso, foi condenada a passar parte do ano com o marido no inferno e outra ao lado da mãe, que anualmente enchia a terra de flores e frutos para comemorar o reencontro. Perséfone, então, simboliza a semente, que precisa ser enterrada para poder germinar depois.
Mais saúde no prato e no copo. Diz a sabedoria popular que fazer gargarejo com chá de casca de romã alivia as dores na garganta. E é verdade. “Os compostos fenólicos – antioxidantes que preservam estruturas biológicas como a membrana celular – presentes na fruta têm propriedades antiinflamatórias e capacidade para aderir à mucosa, protegendo-a. O ideal é fazer o gargarejo à noite, pouco antes de dormir”, ensina a bioquímica Fernanda Jardini, estudiosa e apaixonada pela fruta. Mas é dentro da romã, nas sementes e na película esbranquiçada que as envolve, que estão guardadas as antocianinas (substâncias anticancerígenas) e os ácidos gálico, elágico e protocatequínico (poderosos antioxidantes). Aliás, um estudo da Universidade da Califórnia feito em 2000 provou que o suco da fruta con tém duas vezes mais antioxidantes do que o vinho tinto. Mais: pesquisas apontam que esses ácidos protegem os vasos sanguíneos, reduzindo as chances de infarto e derrame. “Para aproveitar os be ne fícios, bata no liquidificador a cas ca, as sementes e a polpa com um pouco de água, coe e beba em se guida. Outro jeito é friccionar os grãos numa peneira para extrair o suco ou consumi-los juntamente com folhas verdes ou na salada de frutas”, ensina a especialista.
Quanta beleza! A romã tem tudo para se tornar a queridinha da indústria de cosméticos. É rica em antioxidantes, que combatem os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce leia-se flacidez cutânea, perda da elasticidade, rugas e manchas). E aumenta o fator de proteção do filtro solar que você aplica na pele – o ácido elágico potencializa os níveis de glutationa, antioxidante produzido pelo organismo e que protege as células da ação dos raios solares, fonte de radicais livres. Além disso, inibe a proliferação de melanócitos, prevenindo manchas de sol.

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