sábado, 6 de fevereiro de 2010

Canibalismo de filhote de primata surpreende cientistas

Bonobos eram considerados 'pacatos'; cientista acha que prática pode ser mais comum do que se imaginava

Bonobos são os mais próximos parentes do homem, juntamente com os chimpanzés
Bonobos são os mais próximos parentes do homem, juntamente com os chimpanzés
Editor da BBC Earth News - Uma fêmea de bonobo foi vista comendo a carne de seu filhote de dois anos e meio que havia morrido pouco antes.
Entre os macacos, um comportamento como este é extremamente raro e só foi observado antes entre orangotangos, mas nunca entre bonobos, que são os mais próximos parentes do homem, juntamente com os chimpanzés.
Embora incomum, este comportamento pode não ser uma aberração, de acordo com os cientistas que viram o fenômeno.
Mas isto é contrário a uma ideia enraizada de que os bonobos são uma espécie particularmente "pacata".
A descoberta foi noticiada no American Journal of Primatology.
Os bonobos (Pan paniscus), conhecidos no passado como chimpanzés pigmeus, apresentam semelhanças com os chimpanzés comuns (Pan troglodytes).

'Pacatos'
Pesquisadores destacaram com frequência as diferenças de comportamento entre as duas espécies. Os bonobos seriam menos agressivos e hostis um para com o outro e viveriam em sociedades dominadas por fêmeas, e não por machos, como é o caso nas comunidades de chimpanzés.
Eles também eram vistos como menos violentos e, acreditava-se, não cometiam infanticídio ou caçavam e comiam outras espécies de primatas.
No ano passado, contudo, essa imagem mais pacata foi destruída quando cientistas descobriram que os bonobos matam e comem macacos.
Agora, os pesquisadores Andrew Fowler e Gottfried Hohmann, do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva em Leipzig, na Alemanha, registraram um exemplo de um bonobo comendo, junto com outros macacos no seu grupo, o corpo de seu filhote morto.
Fowler e sua colega, Caroline Deimel, realizaram observações de rotina de um grupo de bonobos na floresta de Lui Kotale, na República Democrática do Congo.
Pelas árvores, eles viram uma fêmea chamada Olga carregando o corpo do filhote morto, Olivia, nos ombros.
No dia seguinte, Olga ainda levava o filhote, e passou uma hora acariciando o corpo.
"Depois de uma hora, Marta, uma fêmea dominante, pegou o corpo apesar de uma resistência inicial de Olga", disse Fowler à BBC."Ela começou a devorá-lo, em conjunto com a maioria da comunidade, inclusive a mãe."
Segundo o pesquisador, o festim levou várias horas e a carcaça mudou de mãos várias vezes. Houve momentos em que Olga e Ophelia, outro filhote da fêmea bonobo, ficaram distanciados do grupo.
"Quando sobraram um único pé e mão ligados a um fragmento de pele, Olga pegou os despojos, colocou-os sobre as costas e se distanciou do grupo."

Infanticídio
Fowler disse que tal comportamento pode ser muito mais comum do que o incidente que ele presenciou.
Os pesquisadores podem ter testemunhado outras ocorrências como esta mas podem ter se sentido pouco encorajados a divulgá-los por temerem chamar a atenção para canibalismo entre parentes próximos dos seres humanos, afirmou Fowler.
Ou, simplesmente, pode ser que não tenham havido estudos suficientes sobre os bonobos.
Os biólogos acreditam que o infanticídio costuma ser encorajado por machos que desejam eliminar os mais jovens portadores de genes diferentes dos seus.
Ao matar os filhotes, eles também podem fazer com que as mães voltem a ser sexualmente receptivas, e aumentam as suas chances de acasalamento com elas.
Comer os filhotes é muito raro, especialmente entre macacos de grande porte.
No ano passado, David Dellatore, da Universidade Brookes, em Oxford, registrou dois incidentes entre orangotangos. Ele acredita que os animais estavam estressados.
Fonte: BBC Brasil

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